quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Amanhã

Amanhã a gente começa a falar sobre várias coisas de viado.
Não fique ansioso, porque ansiedade é coisa de viado!

Prolegômenos

Eu sei que prolegômenos é coisa de viado. Eu sei.
Mas, antes de mais nada, tenho que dar duas prolegomenadas.

A primeira: este livro não trata de homossexuais, nem gays. Vou falar sobre coisas de viado. E o que é coisa de viado? Coisa de viado é coisa de machão. Só que ele não se dá (epa!) conta.
Tudo começou nos anos sessenta, a década que mudou tudo. De lá pra cá, fora o computador, mais nada aconteceu. E entre festivais da Record, Beatles, minissaia, pílula, Cinema Novo, Bossa Nova, transplante do coração, um coronel russo comunista subir no espaço em 61 e dizer que a terra era azul e, no final dos mesmos 60 um americano pisar na lua, e o Brasil ser três vezes campeão mundial (considerando a copa de 58), pois um dia, enquanto o mundo mudava para melhor, surgiu também o movimento feminista, tão importante como tudo citado aí em cima.
Os homens reagiram de maneiras diferentes, em todo o planeta. Uns, diziam que era coisa de mulher feia. Outros, de sapatonas. Outros começaram a achar interessante. A mulher ia sair de casa e procurar trabalho. E os mais inteligentes chegaram a pensar: se elas querem ser iguais a nós homens, por que não podemos ser iguais a elas, mulheres?
Foi neste momento, nos anos sessenta, que surgiu a expressão “coisa de viado”.

A segunda prolegomenada: naquele tempo, lá no meu interior mineiro, não existiam homossexuais, gays e simpatizantes. Existiam viados. Na minha cidade tinham dois viados. E eles transaram com três gerações. E não existia nem carinho, nem amor e nem consideração. Era apenas um descarrego dos machões locais que jamais poderiam imaginar que estavam sendo homossexuais naqueles rápidos momentos. Pelo contrário, “comer” um dos dois dava status de macho. E ainda ganhava-se um maço de Hollywood, sem filtro, é claro.
Um noite estávamos todos pracinha olhando as adolescentes passando de “tomara que caia”. A gente tinha uns 17, 18 anos, quando um dos nossos amigos chegou com um cabelo meio diferente, mais armado, mais brilhante. Enchemos o saco dele até ele confessar, todo envergonhado, que tinha lavado o cabelo com xampu! Da irmã!!! Ainda mais da irmã. A gente ficou meio sem reação com aquilo. Era impossível um homem lavar cabelo com xampu. Era só sabonete e depois Gumex. E alguém disse:
- Pra mim, isso é coisa de viado.
O que eu sei é que, em menos de um mês, tava todo mundo usando o xampu da mãe ou da irmã. E ninguém se sentia menos macho com isso. De lá pra cá comecei a perceber “coisas de viado” em todos nós.
Xampu, tudo bem, aceitávamos, mas condicionador de cabelo, não! Isso era demais!!! Seria coisa de viadíssimo. Mas, como todo mundo sabe, sem contar para o outro, começamos a usar condicionar. E ninguém ficou menos macho.
Sim, por que não?, por que não?, começou a cantar o Caetano, no sol de quase dezembro. Coisa de viado? Ainda mais debaixo dos caracóis dos meus cabelos.
Pois é isso. Este blog trata de coisas de viado que os homens usam e fazem e nem se apercebem. Usos e costumes que há quarenta anos fariam com que fossem apedrejados na rua.
Portanto e encerrando, este não é um blog sobre viados, mas sim sobre coisa de viado. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. É um livro quase sobre machões.
E fico por aqui, porque prolegômenos muito grande eu sei que é coisa de viado grande.